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Daísa Rizzotto Rossetto

Atualizado: 28 de fev. de 2022





BANDEIRA PRETA NA CIDADE DO INTERIOR



Estou aqui (e não). Endereço fixo. Portão e porta, chave no carro, quarto da infância. Mas fora de casa, longe de casa. Percebi com nitidez, agora, o lugar onde nunca fui, onde não sou, mas estou... Estou há quase seis meses fora de casa. E, atualmente, impedida de voltar. Demorei para escrever esse texto – pois é, eu levo tempo. Mas nos últimos dias ele está martelando e eu disse que, a qualquer hora, eu chutava o balde.


Chuto o balde.


Depois eu recolho o pano, bebo a água, seco o chão. Mas até lá…


Chuto o balde. Estou há quase seis meses no Brasil e impedida de voltar para casa. Seis meses praticamente fechada numa cidade do interior do país, onde, até dias atrás, eu acreditei que poderia estar realmente exagerando em pedir para atendentes do comércio local colocarem a máscara, me constrangendo por atravessar a rua, por ligar e pedir para falar com quem me importo, sem saber o nome, e pedir quase com súplica para que se cuidasse e usasse máscara. Exagerada – outra vez – por, sempre sozinha, caminhar em ruas isoladas sem tirá-la da cara. Seis meses que faço isso, por confiar na força do exemplo, na intenção de apoiar quem olha para as ruas e fica na dúvida sobre aguentar o desconforto ou o receio de parecer ridículo num lugar em que o uso da máscara havia se tornado quase raro.


Fiquei doente, de alma doente ao entrar em estabelecimentos e me deparar com funcionários sem máscara, sendo guiados por patrões que faziam piada com pandemia. Fiquei cansada pelos toques no braço, demonstrações de afeto, sim, mas que não cabem agora…


Em todos os cantos do país, enquanto muitos médicos, enfermeiros e profissionais da saúde se movem guiados pela ética de suas escolhas, por acreditarem na profissão que escolheram, outros tantos fazem das avessas. É melhor não entrar no mérito do exemplo de parte dos profissionais de saúde e autoridades públicas, do que foram as eleições, o natal, o ano novo. Não quero pensar na problemática ambiental atrelada à pandemia e tudo o que pode vir. Mesmo assim, penso na Amazônia, no que estamos fazendo por um saco a mais de soja transgênica, pelo peso nos bolsos. Aos trilhões, no poder e no dinheiro do mundo que agora ninguém menciona… Fragilidade nossa exposta e sem ar...


Certo dia, fim de tarde, saí de carro para dar uma volta e fiquei chateada. Ninguém tinha me avisado que a pandemia, aqui, havia terminado, ou talvez que nunca havia começado. Tudo estava normal. Sabe, os bares?


Vivi a primeira onda do coronavírus na Lombardia, um dos epicentros da doença, dias em que não se sabia nem o que poderia ser tocado, onde o vírus estava. Dias em que íamos dormir pedindo para que no dia seguinte os números fossem menores. Dias de confinamento sério, nas ruas só se ouvia o gritar dos corvos. E a possibilidade de abraçar era uma ideia remota...


Vim ao Brasil por desprendimento, por intenção e cheia de esperança de que tudo ficaria bem logo…


Seis meses isolada e longe de casa…


Com o portão fechado para visitas, Exagerando, com medo do corona… Foi o que ouvi até poucos dias atrás.


Saio cedo para caminhar. Máscara e fones de ouvido.


Em cantos de tantos lugares, em tantas cidades, em muitas casas, bandeiras de um suposto Brasil estão hasteadas orgulhosamente como demonstração de gosto pelo país – não ouso usar a palavra amor para representar isso. Nós sabemos o que estas bandeiras representam. Mas como genuíno apoio e interesse pelo país pode representar tamanho descaso e descuido com um povo?


Sim, com pessoas do país.


Nossa falta de humanidade não nota que precisamos pensar além de nós, que é preciso dar a quem não tem, que é preciso ensinar como se usa uma máscara, o que de fato significa distanciamento social, que vacina funciona, que não há tratamento precoce para Covid-19, que cloroquina e ivermectina não tratam.


Dias atrás, alguém me perguntou o que eu achava da situação do Brasil. Disse o que sentia, que Bolsonaro e sua política pareciam ser um vírus pior. Foi um militar que me perguntou. E a verdade é que não quero alimentar, nem mesmo contra Bolsonaro, a maldade amarga que parece ter ele, o presidente, em relação a tudo. Eu não quero ser como ele...


Contrária às bandeiras, contrária à falta de humanidade, de responsabilidade e de cuidado de um presidente e de tantos outros que o exaltam, não rezo, nem peço a Deus. Contrária a eles, quero aprender a exercer a tolerância até mesmo com os intolerantes – não é fácil, mas vale a tentativa. Porque eu não quero ser como eles. Para a indiferença e brutalidade do descaso, cuidar e ter atenção aos outros, eis a nossa resistência. Ter bom coração, eis a nossa ferramenta.


Eu quero não perder o amor, o bater pulsado do coração. Quero dizer para o mundo que a vida vale a pena e que nós seguimos em frente. Que estou cansada, triste, ainda mais silenciosa, mas que não perco empatia e afeto, porque o que eu quero é, em meio a tudo isso, pensar no horizonte com amor. Eu quero ouvir meu amigo de Minas chamando, “Oooo Daísa…”, eu quero abraçar minha amiga do Amazonas, escutar ela me chamando de Mana, quero dizer para ela que eu a amo, quero encontrar a Inês, a Sandra, a Mara, o Lúcio, a Ana Julia, ouvir a risada da Lu, ver a Iasmin voltando da feirinha, ver meus sobrinhos correndo, ver meus pais podendo passear como eles gostam, conhecer a casa do meu irmão, cansar de ouvir minha irmã falar, alisar o pelo da Juju, chamar a Lana, encontrar a Jéssica, beber vinho com a Ana, andar de madrugada, andar de madrugada... Quero rir dos desencontros e abraçar os encontros e abraçar ainda mais forte o reencontro do acaso. Quero chegar em casa e jogar a bolinha para o Chico, deixar a Ruska cheirar a comida do meu prato. Quero cuidar do mundo e cuidar do mundo agora é chutar o balde, mas não desistir, não esquecer de fazer a minha parte, mesmo que seja pequena.


Quero ter mais calma com quem preciso explicar como lavar as mãos e como se usa a máscara, que deve mantê-la ao falar ou quando espirrar, que este não é o momento de tocar, dar tapinhas no ombro. E quem tem fé que não a perca, e quem acredita em Deus que continue confiando e orando. Mas acho que ele, talvez, também espera que cada um faça a sua parte tomando as medidas de cuidado, ao invés de deixar tudo na responsabilidade dele.


E alguém me ajuda a explicar o que significa distanciamento social, o que é crescimento exponencial, como se desenvolvem vacinas?


Quem puder que ajude como pode, mas ajude quem não sabe ou não tem acesso às medidas de proteção. Quem pode que não esqueça que, para muitos, a pandemia é só mais uma preocupação, porque eles ainda têm a fome, o trabalho, a violência, a opressão.


É, não passo de uma garota estranhamente sonhadora, escrevendo poemas e histórias infantis, desenhando finais felizes para amores pandêmicos que quero profundamente abraçar e viver, acreditando em dias melhores, esparramando o horizonte na história com final feliz. Eu que não vejo impedimento para sonhos e não acredito no impossível...


Mas eu não sou nada (como o poeta) e não sei nada. Sou só uma garota estranha e isolada, impedida de voltar para casa. Sou uma privilegiada por poder estar dentro de casa, por não me faltar nada. Por poder caminhar tendo máscara no rosto e álcool no bolso.


E agora, seis meses… Parece que, depois de tanto aviso e indiferença, as ruas se moveram e fizeram silêncio, as portas estão fechadas. Bandeira preta na cidade do interior.


Mas durou pouco, no dia seguinte, nas ruas, o movimento voltou outra vez ao normal. É o que parece...


17.02.21


 


PARA O SUPERMERCADO



O supermercado recolheu as histórias, lavou as mãos, esterilizou as portas, as hastes dos carrinhos, os cestos, os caixas. Limpou a memória de passear entre gôndolas, prateleiras, rótulos e preços por lembrar e aquele andar ou borboletear de um sábado sem ter o que fazer. Mas o supermercado refez a condição da história, exigiu protagonismo, hora marcada, a importante condição social de ente querido.


Acordo cedo, antes do dia, mais cedo que o costume. O ritual começa sem fome, é dia pensado na tarefa principal da manhã. Mas da noite ressoa ainda a arquitetura da fuga e dos ponteiros. Entre lista e corpo, apetrechos e trechos dos tempos, do tempo que se propaga, paga, apaga e arrasta.


Um corpo esgotado, cansado. Um corpo não dorme e desperta do que não foi sono. É hora combinada de supermercado. Mas ainda é um amanhecer frio de um raiar que se insinua entre concreto e árvores já floridas, entre as réstias de um nascer inventado para o despertar do que não despertou na noite nem no corpo. O sol é lento e a manhã é fria em mim.


E o ruído é longe, são carros acordados também eles para o supermercado. Todos, ou quase, programando o espaço da lonjura, da distância, da refeita hora, do intervalo na projeção da vida, da memória do que foi um dia, do desenho na cara, a imagem ar do que será depois, outro dia… E a vergonha, o testemunho, o genocídio, a insensatez dos números lucrativos… E esse ar que falta sem teste positivo, esse ar que leva da vida, e a vida que se leva agora…


Mas, então… E esse ainda bicar brincando de pássaro e ar na nuvem. E essa esperança esperando esperada, um dia cinza por onde passa. E os carros passam e o supermercado abre as portas. Horário estabelecido.


E lá está. Fila e começar. E seguir e esperar. E lá está. O acontecimento da semana. Um dia para o supermercado. E lá, linha demarcada. Carrinho à frente. Carrinho atrás. É quinta-feira, 7:30 da manhã.


Poucos rostos adormecidos, sonolentos, lentos estados e feitos. Eles não dizem ao que adormeceram. Se é futuro, luz ou ilusão, precipício, condição, juízo ou propagação. O passo ensaiado e aprendido, espaço, espera, porta aberta, temperatura, luva suada na mão. Ninguém mais pede ajuda no corredor, vai na dúvida. Ninguém ergue o rosto. Ninguém percebe se ainda há música entre corredores – como antes. Observam o movimento, quantos carrinhos na secção dos vinhos. Não há crianças pegando doces. Nem chance de encontrar colega ou vizinho. A manhã cansou-se rapidamente.


É cansativo, mas há fome. De pão e mesa, de ar e vento, de abraço e vida, de afeto, de encontro, de amor, de emoção, de nostalgia, de esperança, de vacinação, de amanhã. De um outro dia, que pede espera, que espera, que é. Que pede calma, aguenta, espera… Que diz, olha pra frente, olha o horizonte, olha pra quem, olha pra todos, olha pra vida, pra vida toda… Mas olha com vida, porque lá fora o mundo desmorona negando e entregando veneno como remédio, lá fora falta senso e responsabilidade, falta afeto. Lá fora tem autoridade e faixa presidencial, mito e crime contra a humanidade. Lá fora tem gente que sofre e sofrendo atrás da máscara ainda olha pro céu e encontra razão de sorrir. Lá fora a existência continua ensinando, ensaiando, fluindo… Lá fora tem vida que mostra que viver ainda é maior do que tudo aquilo que falta e tudo aquilo que sobra de descaso, de descuido, de maldade, de insensível. Então, grita fora e sente o que propaga… Ainda existe afeto nessa história.


Um fio de cabelo se precipitou e fez cócega no pescoço…


Mas então eu parei. Era um texto – agora – recortado e costurado na barra, um pedaço ressentido, descabido. O resto caído pelo chão, por terra.


E agora eu olhei para o supermercado de um ano atrás, e eu… Hoje também é quinta-feira e eu nem notei. Nem percebi que o texto de um ano atrás mexeu comigo, de dar dor de cabeça e enjoar. E eu fiquei assim, sentindo sintoma, ficando doente. Cai precipício ou pedra que bate, palpita entre as rochas. Sinto – é que viajei ontem, e foi mesmo preciso…


E, seguindo e sem saber como digo, sem saber remediar ou pensar, fiquei assim por abandonar e abandonei o texto por onde sigo. Eu paro aqui como se fosse “desisto” mas eu que sou eu insisto e escrevo essa linha, assim agora no olho. E… É sobre o supermercado de um ano atrás, quando um aparelho perto do rosto e um número para o calor do corpo quase foi lido como… Como? Eu não lembro ou não quero lembrar – como falta afeto que passava do tempo de passar – (Como um ‘te amo’ – a resguardar). Era como um carinho correndo corredores num rosto deitado e sem sono.



23.04.20 - Itália

18.03.21 - Brasil



 


RESISTA



Como quem dá a mão, resista.

Como uma muda plantada,

Como uma araucária que continua em pé,

Como uma árvore depois de cortada,

Um broto,

Uma semente,

Como uma flor no asfalto,

Como um não,

Como uma folha grudada no vidro, resista.

Como um raio de sol que ultrapassa a nuvem,

Como um segundo respiro depois que o ar acabou,

Como o mergulho da gaivota,

Como a luz da estrela que morreu, resista.

Como uma criança que chora de fome,

Como um cão que corre,

Como um retalho de vidro enterrado,

Como um soco no vidro, resista.

Como quem dança

E canta,

Como quem se molha na chuva,

Como quem faz amor,

Como quem acredita no amor, resista.

Como quem arrisca, resista.

Como os ossos ocos dos pássaros, resista.

Como um ninho ao vento,

Como o vento no fim da noite,

Como o desenho das letras quando a tinta acaba, resista…

Resista...

Como as asas da borboleta,

Como um avião que repousa no ar,

Como uma pena que se solta e vai ao ar.

Como pólen,

Como abelha,

Como formiga,

Como qualquer coisa que se empurra,

Como um passo.

Um passo...

Um passo, resista.

Como um pássaro que agarra os fios de eletricidade.

Como quem segura na mão, resista.

Como grama cortada,

Mato arrancado,

Raiz puxada,

Um tecido rasgado,

Como os ciscos varridos, resista.

Como a luz do meio dia,

Como o silêncio da noite que se afina,

Como a cola na parede,

A mancha de tinta,

Um prego enferrujado,

Como uma tampa no vácuo, resista.

Como o acaso

E a força de qualquer coisa, resista.

Como o caos

Ou um grão desorganizado...

Como a fragilidade dos atos,

Como o fazer versos num dia de colapso,

Como a voz dos desabrigados, resista.

Como a pedra na esquina,

Resto de comida,

Um vaso abandonado,

Como um sapato velho,

E noites mal dormidas, resista.

Como farol girando ao longe,

Como memória,

História que fica,

Como sensação que não dita,

Como chuva no guarda-chuva,

Resista como quem comemora.

Como teia de aranha nos cantos,

Como ruínas,

Desenho na areia,

Explosão de estrelas,

Um balanço ao relento,

Como um segundo,

Como ausência, resista...

Como voz e violão,

Como som propagado de uma única tecla,

Como um sorriso,

Um riso,

Como uma lágrima,

Um suspiro,

Um respiro,

Como o inesperado,

Como anos passados, resista…

Como o ímpeto de morrer e de viver,

Como a ousadia do sonho,

Como a força de levantar-se e não se perder,

Resista...

Como memória.

Com toda vida,

Com todo afeto,

Com todo amor, respira só mais uma vez…

Resista.


12.02.21




QUANDO PASSAR...



Quando tudo isso passar…

O que você vai esquecer?

Quem você vai lembrar?

O que você vai soltar?

Quem vai querer segurar?

Onde estarão os braços que colocaram você no ar?


Quando tudo isso significar abraçar…

Para que lado da rua vai correr?

Sem pensar…

Qual loucura estará prestes a fazer?

Quem vai querer beijar?

Para quem você vai dizer?

O que vai ter para dizer?

O que vai dizer?

Sem pensar...

Qual caminho vai escolher?


Quando passar isso tudo...

Em quem vai ser quente?

O que será latente?

O que pensará?

O que será evidente?

O que será só e suficiente?

O que será potente?


Quando…

Quando tudo isso passar…

O que você vai sentir?

Quem você vai ser?

Qual ar fará sobreviver?

Em qual rosto estará o riso que fará você viver?

Para qual mundo vai querer viver?


Quando tudo isso passar,

Qual será o mundo que você vai deixar viver?


Que ritmo vai dançar?

Qual rua atravessar?

Em qual banco vai sentar?

Em qual tempo ou lonjura vai correr?

Qual vida quer encontrar?

Quando tudo isso passar...


Quem você está esperando?

Quem vai estar esperando?

Na porta,

na rua, na calçada, na chuva,

no portão,

no rol de entrada, na contramão,

no desembarque, no degrau,

olhando para o chão…

Quem espera por você?


Quando tudo isso passar,

O que escolher?

Quantas árvores plantar?

Qual manhã regar?

Em qual chão acordar?

Em qual cama deitar?

Estará feliz nos olhos que vai encontrar quando abriu os seus?

Quando tudo isso passar...


O que não passará?


Desse tempo,

Quem acalmou o tempo para você?

De outro tempo,

O que vai lembrar?

O que vai deixar para esquecer?

O que vai deixar?

O que vai esquecer?

Desse tempo,

O que levar?

Quem vai levar em você?

Quem vai continuar levando você?


Quando tudo isso passar, qual passeio será?

O que será adeus?

Para quem vai dizer aceito?

O que será, então, enfim?


O que você vai escolher?

Para quem vai ser melhor?

Para quem estará sorrindo?

Com quem vai se emocionar?

Para quem vai ser afeto e rir?

Quem vai enxergar?

Enxergar pela primeira vez…


O que você vai enxergar pela primeira vez?


O que será afeto?

Quem estará frágil?

O que será mais forte?

O que será amor?


Quando tudo isso passar...

Para quem você terá estendido a mão?

Para quem vai estender o braço, o abraço?


O que você vai ser?

Para quem vai ser?

No que vai acreditar?

O que vai lembrar?


Quem você vai ser?

O que você terá sido?

Quando tudo isso passar…

Você vai querer lembrar quem foi?


Quando tudo isso passar,

O que não será?

O que não passará?

O que será outra vez?

O que será a primeira vez?


Quando tudo isso passar, quem será você?


19.03.21



 

Natural do Brasil, licenciada em Direito, fez uma dissertação sobre o Animal e o espaço entre Direito e Literatura. Atualmente é estudante de Literatura em Portugal, pesquisando sobre animais e como salvar o mundo. Vegana, feminista, viajante. Algumas coisas publicadas em livros e revistas e muitas outras publicadas no blog www.daisarossetto.com.br

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