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FOTOGRAFIA

Ana Carvalho

"O tempo teve aqui um papel muito importante. A mesma rotina dia após dia com a sensação de não ter nenhuma perspectiva, nenhuma saída. Como se o espaço fosse cada vez mais apertado e me sentisse andar em círculos. Foi por isso que escolhi o relógio como principal símbolo, não apenas do tempo que passa mas que avança tão lentamente que parece congelar. Outros símbolos são portas fechadas, a sua repetição, a luz que atravessa as persianas."

(Leia na íntegra aqui)

Teresa dos Santos

"Mapas

Caminho sempre em frente; é essa a única direcção que conheço, que quero conhecer.

É por isso que não preciso de mapas.

Tempo

É estúpido que existam calendários. Que se aprisionem assim as vidas. Que se condicionem os sentimentos e as emoções a números, a escalas, a formalismos, a padrões, a conceitos.

Sexta-feira vamos estar juntos. Sexta-feira vamos abraçar-nos. Sexta-feira seremos felizes. Sexta-feira, só sexta-feira. Consegues esperar até sexta-feira?

Apenas o tempo é livre; nós, não.

Vazio

Vazio é o que se chama ao espaço que existe entre nós. Aquele que podemos percorrer juntos."

Dicionário do Confinamento, de Paulo Kellerman (leia na íntegra)

José Luís Jorge

FÁTIMA DESPIDA

Fátima é um lugar de multidões, afirmação redundante que a ninguém causa surpresa. Todos sabemos que é assim, seja por experiência própria, seja por termos visto através de um ecrã.  Mas eis que chegados a 2020 — ano como não temos memória de ter havido outro igual —, o lugar de multidões transformou-se num imenso deserto (só silêncio e quietude, de alguma forma mais em consonância com um lugar associado à religiosidade e espiritualidade).

Durante o mês de Abril de 2020 desloquei-me quatro vezes ao santuário, acicatado pela curiosidade, e o que encontrei foi uma Fátima despida de peregrinos e de turistas. Quem já viu um milhão de pessoas concentradas naquele espaço, poderosa experiência, e depois se confronta com esse mesmo espaço vazio, não pode deixar de sentir um forte abalo dos sentidos. Comigo aconteceu assim. Foi essa Fátima tão insólita, tão distante do arquétipo, que me esforcei por registar em imagens

Carla de Sousa

Frankie Boy

Goretti Pereira

Estas fotografias analógicas a preto e branco sobre temáticas abstratas refletem a minha experiência de isolamento em 2020, altura em que me senti física e emocionalmente encurralada. Como fotógrafa, vi-me forçada a explorar o ambiente mais próximo, desenvolvendo um prazer renovado na observação das pequenas coisas mundanas. Isso fez com que a minha perspectiva se alterasse, permitindo-me expressar através do abstrato. 

(Originalmente escrito em inglês. Tradução de Gabriela Ruivo Trindade)

Sónia Silva

E no escuro, uma pele.
 
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Olhos fechados. Olhos abertos.

Dentro. Fora.

Onde está a fronteira?

Como posso distinguir o dentro do fora?

Como posso perceber se, quando te vejo, tenho realmente os olhos abertos?

Como posso perceber se existes dentro ou fora de mim?

Tenho medo de não te ver quando fechar os olhos.

E agora, já me podes abraçar?

 

Paulo Kellerman

Ana Gilbert

A SOMBRA DOS DIAS

Fotografo a sombra dos dias para ter a certeza de que eles passam.

Ana Gilbert fotografia

©Ana Gilbert, Linhas sem fuga

Rafael Vieira

Deus já estava nos detalhes – e, assim, também o Diabo (o Inimigo) habita nos detalhes. A passagem do tempo e a sedimentação das horas vão contaminando tudo, todos, na perecibilidade dos alimentos, no sobre-uso das ferramentas, na experimentação culinária, em novos hábitos a fazer de hábito, no jogo da espera e das expectativas. Este é um longo exercício de monotonia em que, como Hopper, se vão tirando instantâneos do tédio. A sedimentação das horas permite o inverso: além da duplicidade entre letargia e explosões de criatividade, faz-se a observação das coisas em proximidade, a demora no olhar sobre os objectos, porventura algo nunca concretizado. Até que neles se manifestem cicatrizes, estranhezas, irreconhecibilidade. 

Manuela Vaz

CALIGEM

Neste novo real que é ver o mundo da minha janela, tomei para mim o Sol, as nuvens e os nevoeiros e o vento, as casas e os seus telhados, os humores do tempo. Roubei-os com a minha objetiva e fiz deles meus. Com eles fugi de casa e imaginei paisagens diversas daquelas que o meu horizonte permitia. Por companhia, tive o som dos pássaros, que invadiram os espaços livres de humanos.

E os barcos, lá ao longe.

Alice WR

RESPIRAR

Ultrapassado o choque inicial, em que o meu cérebro me colocou a viver em modo de sobrevivência e não me deixou pensar muito, consegui aventurar-me e sair. Fui para os meus lugares de respirar. Lugares de mim e para mim. Deixei-me por lá ficar, à conversa com o ar, a terra, a água, as pedras, os animais e os dias. A respiração, essa, eu podia controlar.

Susana Gonçalves

Certos dias despontam como se tivéssemos chegado ao fim do mundo.

São como um filme negro, ambíguos, sombrios, esburacados.

Ir embora. Sair de cena. Voltar ao centro.

Teresa Afonso

Falam do meu avô como se ainda ontem estivessem na sua companhia.

"Cada vez que saía para o mar, alimentava vidas. Alimentava sonhos. O teu avô tinha um coração do tamanho dos oceanos."
O meu avô é o “Sonho da vida”.

 

Céline Gaille

Esta é a história de um gato

De uma gata

Magnia.

(Poema de Sebastien Rozeaux. Leia na íntegra aqui).

Sílvia Bernardino

Lahissane

(Todas estas fotografias foram publicadas no projecto Fotografar Moçambique).

Ana Moderno

Cristina Vicente

Normalidade aos passos

Confinamento

Ozias Filho

Mónica Brandão

Juliana Monteiro Carrascoza

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