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  • Foto do escritormapasconfinamento

Tiago D. Oliveira

Atualizado: 28 de fev. de 2022





TROPISMOS




I


pousos de pássaros e fios, detenho-me também

em um tempo sem lives. lagartixas ilesas ao sol,

coleciono agora saudade. toda beleza é ruína.



II

a voz é memória. Chaplin. a televisão.

nosso alpendre ao vento ornando a vida lá fora,

deixo folhas de papel pautado soltas na janela.




III


alguém atravessa a rua, rindo ao celular,

não sabe se bebe ou esfrega o álcool 70%.

arrependo-me dos abraços que não dei.




IV


conter a velocidade é negar o mundo:

faço versos noturnos fitoterápicos com o sono

em julgamento. esqueço-os todos durante o dia.



V


é latência, mesmo com a dança ministerial.

eviterno sentir sob os acontecimentos:

crescimento é dor trans/carnal.







CRISTO



I


Enquanto o vento

sopra o sal

em nossos olhos,

um som erige

deste mar saqueado.


II


contra as pedras

escuto, defesa é

respirar. vejo ali

a Barra, colho

o dia como

quem o plantou.

não. eu preservo

a distância ainda

com olhos fechados –

defesa é respirar:

a mobília, paredes

em cores incessíveis,

de repente, boi,

a peleja, vozes,

tudo é água.

defesa é respirar,

quando os pingos

de sal caem

em meu rosto.

mas há ainda

a cadeira, mnemônica

de uma fé:

e o peso

de um monóculo

em meu bolso

é fuga – Deus?



II


que não encontro os amigos. eu, que não digo mais poemas. eu, que não abato a saudade agora. como se tudo pudesse voltar. como se de onde paramos, conseguisse soletrar o luto. é impossível prever os pingos deste mar sobre a rocha, sobre o meu corpo, sinto –

defesa é respirar.



III


e o desejo é apenas

um canto de sereia



IV


enquanto o vento

sopra o sal

em nossos olhos,

um som erige

deste mar saqueado.


V


defesa é respirar.



 

Nasceu em Salvador, Brasil, graduado e mestrando em Letras pela UFBA, tendo passado pela UNL (Portugal). Tem poemas publicados em blogs, portais, revistas e jornais especializados no Brasil, Portugal e Espanha. Participou também de antologias no Brasil e em Portugal. Publicou Distraído (poesia, 2014), Debaixo do vazio (poesia, 2016), Contações (poesia, 2018), As solas dos pés de meu avô (poesia, publicado no Brasil e em Portugal), e Mainha (poesia, 2020). Escreve para o portal literário Letras In.Verso e Re.Verso. Finalista do prêmio Oceanos 2020 com o livro As solas dos pés de meu avô, e Vencedor do Selo João Ubaldo Ribeiro 2020, na categoria poesia, com o original Soprando o vento.


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