mapasconfinamento
Teresa Guerreiro
Atualizado: 28 de fev. de 2022

COZINHADO
cozinho a ansiedade
em lume brando
mantenho esta angústia
em banho-maria
águas tépidas de medo
contido
fermentação lenta
de tristeza enfarinhada
separo as dores gordurosas
das mais secas
e cozo-as em águas
separadas
os pânicos preparam-se
à parte
dos mais leves aos mais
negros
em momentos distintos
de confeção
e espero
... conseguir
não fugir
POEMA RESPIRATÓRIO
Ar-mar
Ar-poar
Ar-tilhar
Ar-rasar
Ar-repender
Ar-rebatar
Ar-repiar
Ar-der
Ar-ar
O meu coração
Falta-me o ar
--
Farta
Farta disto
Farta do medo
Farta de falar do medo
Farta de especular o medo
Farta de comer e vomitar o medo
Farta de fingir que não há medo
Farta de hiperbolizar o medo
Farta de sentir este medo
De respirar de existir
De viver sem sorrir
Deste persistir
Do medo
Em mim
É tempo de sair de dentro do medo
É tempo de perceber o momento
É tempo de percorrer o tempo
É tempo de encarar o medo
De pensar sem congelar
A capacidade de pensar
Para não sucumbir à chapada
Para ir além do medo-momento
Para caminhar sem medo do vento
Nascida no Monte Estoril, atualmente a residir em Elvas, é professora de Português e professora bibliotecária, profissão que exerce há quase 30 anos. Mãe de dois filhos sempre a crescer, fotografa por prazer, escreve por necessidade, lê porque a alma também precisa de oxigénio para respirar. A poesia tem lugar cativo nas suas preferências de leitura e escrita, desde que aprendeu a ler e escrever. A pandemia foi palco para intensa reflexão escrita.