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Ronaldo Cagiano

Atualizado: 28 de fev. de 2022




NO PRIMEIRO DIA DO RESTO DE NOSSAS VIDAS



esta é a hora dos mortos

a hora dos mortos sem sepultura

Alexandre Pilati




O mundo não se tornou melhor, não implodimos a ilha de Manhattan, as veias abertas da América Latina continuam sangrando e a maçã da Apple não apodreceu. Vejo um Planeta chocar-se com o desconhecido, mas não o choca o inventário da derrota, todos ainda condenados à insularidade do egoísmo, aos fetiches do deus mercado, às re(l)ações virtualizadas, à tirania do fundamentalismo eletrônico e à potência esterilizante das fake news. O horror do vírus travestido de estatística transformou vítimas em números. Na indigência de Nova Iorque, Manaus ou Vila Formosa, as sepulturas enfileiradas: metáfora de um sinistro código de barras na fa(r)tura dos obituários, leitura ótica da desumanidade que nos apequena e inaugura o inverno do nosso descontentamento.



 

Nascido em Cataguases (MG, Brasil), Ronaldo formou-se em Direito, viveu em Brasília e São Paulo e está radicado em Portugal. Estreou com Palavra engajada (poesia, 1989) e dentre as obras publicadas, destacam-se: Dezembro indigesto (contos – Prêmio Brasília de Produção Literária 2001), Dicionário de pequenas solidões (contos), O sol nas feridas (poesia, finalista do Prêmio Portugal Telecom 2013), Eles não moram mais aqui (contos, Prêmio Jabuti 2016, publicado em Portugal em 2018); Os rios de mim (poesia), O mundo sem explicação (poesia) e Cartografia do abismo. Organizou as coletâneas Antologia do conto brasiliense, Poetas mineiros em Brasília e Todas as gerações – O conto brasiliense contemporâneo.

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