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Helena Machado

Atualizado: 28 de fev. de 2022





TÃO PERTO QUANTO EU DE VOCÊ



Dentro do carro, a menina corria os olhos além da estrada. Havia o verde-claro da alface e o verde do seu uniforme e o verde-escuro do abacate e o verde mais claro do repolho e ainda o verde do suco verde, havia mais verdes nas montanhas do que a quantidade de verdes do seu estojo de canetinhas e lápis de cor e de cera juntos. Se olhasse para baixo, o buraco formado por aquelas pedras gigantes parecia um funil, e escorregando por elas tinha uns fios grossos e prateados que deviam ser um monte daquelas bolinhas de mercúrio que a tia do Jardim II havia mostrado.


— É cachoeira, filha.


Antes, a menina achava que cachoeira era um monte de cachos de bananas juntos.


A menina não estava entendendo nada. De uma hora para outra havia ficado de férias. Agora, após um enclausuramento de seis meses, subia a serra. Não fosse o cinto, já teria metido a cabeça cheia de porquês entre os bancos dianteiros: um com a mãe e o outro sem ninguém.


— Se eu voltar pra escola ainda posso ficar dodói, mãe?

— Sim, filha. O bichinho que a gente não vê ainda tá por aí.


— Ele é muito mau mesmo né, mãe?


— É sim, filha. É sim.


— Será que ele não vai embora nunca?


A mulher titubeou. Não gostava de mentir, mas também não podia demonstrar sua falta de confiança.


— Nunca é muito tempo, filha.


— Nunca é todo o sempre, mãe?


— Pode ser... mas espero que não.


A menina ficou mais confusa ainda.


— Nunca é maior que um século?


— Nunca é a maior medida do tempo. É coisa à beça.


— Eu achava que pra sempre era maior que nunca.


— Nunca e pra sempre são do mesmo tamanho, filha.


— E coisa à beça é muita coisa?


A mulher suspirou e, como que saídas do seu sopro, pétalas rosas de bougainville passaram voando pelas janelas. A menina se empolgou com aqueles confetes de carnaval e se pôs a cantar:


— Mamãe, eu quero, mamãe, eu quero, mamãe, eu quero mamar! — a menina se sacudia no banco de trás, criava quebra-molas dentro do carro — dá a chupeta, dá a chupeta, dá a chupeta pro bebê não chorar!


— Filha, vamos ficar quietinha? Mamãe tá com dor de cabeça.


A menina murchou feito bexiga estourada e recolheu-se ao encosto do banco.


— Quando a gente chegar você vai ganhar uma surpresa.


— Que surpresa?


— Não posso te contar porque senão não seria surpresa. Mas é uma coisa que guardo há muito tempo pra te dar na hora certa.


— E que horas é a hora certa?


— A hora que a gente chegar. Agora vamos fazer um pouquinho de silêncio.


A menina deixou os olhos caírem nos rabiscos de lapiseira que corriam junto ao carro. Desde sempre, o cinza era caminho conhecido por ela. Então, foi embalada pelo asfalto…


… a cabeça começou a se debater contra o vidro…


… e se pôs a roncaarrrrrrrrrrrrrr


A mãe estava mesmo com a cabeça pesada, sua mente parecia a beira mar repleta de âncoras de chumbo, no entanto, as âncoras não atracavam nem barcos nem navios nem canoas, e cada novo pensamento colocava a mãe em mais uma embarcação à deriva. Quando o carro passou à margem do lago verde de águas cristalinas — pena que a menina não viu, agora só quando retornassem, o que não se sabia quando — a mãe começou a se questionar se o tédio dos peixes era igual ao dos humanos, não, não é, concluiu, pois os peixes nadam sem pensar em nada, então um novo coral é sempre um coral novo. E a mãe seguiu no volante elucubrando sobre os animais que são puro instinto e zero pensamento, e nós que ganhamos a consciência, mas pecamos por excesso de pontos finais. Se todos tivessem tantas âncoras inquisidoras na cabeça o mundo não estaria tão cheio de certezas. As certezas que nos fazem pensar errado. Achamos que sabemos quem somos, quem o outro é, o que o mundo é, e falhamos pela nossa ousadia, por nos apropriarmos das árvores, dos rios, do outro, nos destacamos da natureza como etiquetas que abandonam o papel na qual são coladas, o papel verde e azul que é o mundo, e agora vivemos em um futuro que parece o século passado, o futuro em que somos contaminados pela única coisa que nos une: o ar.


Não seria essa doença um símbolo da nossa incapacidade de compartilhamento? A mulher achava tudo muito curioso porque suas divagações sobre o mundo e o vírus serviam como um chapéu feito sob medida para sua cabeça grande. Afinal, ela também era uma parte do todo. Uma parte que sempre se sentiu à parte. E assim como no planeta inteiro, onde as frestas vinham rachando e as coisas rastejando para fora de seus esconderijos, ela própria estava tendo que encarar suas verdades mais recônditas, aquelas que dissimulamos sem nem saber que estamos dissimulando, essas coisas que, em um soluço, saem sem freio.


A mulher que sempre precisou de mais tempo do que os outros para matutar consigo mesma, que não suportava quem lhe roubasse a solidão por inteiro, estava aprendendo a compartilhar a vida com a menina. No banco de trás do carro, o ar sonoro era tudo o que saía da boca da criança. Ela roncava ainda mais profundamente, quem sabe estivesse sonhando com um mundo cheio de respostas.


A mãe seguiu cavoucando dolorosamente suas verdades, seguiu pescando-as lá de dentro como quem mete na própria boca uma linha cheia de cerol para depois puxá-la pela garganta. Será que tememos tanto o desconhecido porque no fundo é o que mais queremos? Quem diria que, de uma hora para outra, depois de uma gestação de três anos e cinquenta e sete dias, chegaria a sua filha? Quem diria que, de uma hora para outra, estariam juntas fugindo de uma pandemia? Era muito sintomático o vírus chegar assim, reiterando que o futuro é um cano d’água que está sempre escapando, um cano que não se pode remendar, nos resta apenas seguir a corrente e confiar que da mesma maneira que a água passa pelo furo tem uma hora que cada um de nós vai passar também. E não adianta querer saber a hora. Ao seu alcance só restava a máscara, o álcool em gel e mais nada, ao seu alcance só havia essas coisas esterilizadas e sufocantes como a nossa falta de contato.


A mulher escancarou as janelas dianteiras e se entregou ao ar fresco e limpo da serra. Seus fios de cabelo finos se embaraçavam à mercê do vento, e ela pensou que ser mãe era aquilo, era estar embaraçada com a filha, ainda que não a tivesse parido.


Abriu bem a boca e aspirou o ar. Ficar de boca aberta era uma técnica para impedir que a cabeça desnorteasse feito bússola indecisa, retornando às perguntas que não saberia jamais responder, indagações com respostas apenas transitórias. Talvez as oscilações — como os olhos de gato no meio do caminho — estivessem jogando luz sobre seu imenso medo de não dar conta, de não ser capaz de sustentar uma história que ela própria havia decretado com veemência. Havia decretado que ela, aos 46 anos, devia ser presa a alguém. Havia decretado que não poderia passar essa existência renegando seu desejo de ser mãe. E agora trafegava em uma rodovia sem nenhuma placa, sem nenhuma sinalização, o céu estava limpo, mas ela era tomada por raios de culpa. Não sabia se havia adotado a menina em uma tentativa limite de tentar dominar sua própria cabeça, quem sabe criando outra pessoa não estaria recriando a si mesma?


Agora, na guiança do carro, a mãe pensou na mãe biológica da menina — tinha apenas quinze anos quando a trouxe ao mundo, de parto normal —, estaria ela tendo condições de se proteger?, estaria a adolescente que pariu sua menina em um trem repleto de desmascarados?, e por que a menina veio parar justo em suas mãos?, por que essa filha é sua filha?, a mãe começou a lançar suspiros que ocupavam tanto espaço quanto bolhas de sabão produzidas em aros gigantes, virou o pescoço para trás e viu a cabeça da filha tombada no vidro, a boca entreaberta de embalo profundo, a mãe também sonhava quando entrava em um carro não conduzido por ela própria, o sacolejo era pá-pum para cair no sono, feito o ninar de um colo para lá e para cá, e então a mãe tirou a mão direita do volante e fez um carinho no joelho da menina, o joelho carimbado por uma cicatriz de sorriso invertido, e a menina acordou justo nessa hora, mas encostou a cabeça na janela novamente e fechou os olhos e fingiu que continuava a dormir, porque a menina, por sua vez, naquele ano e meio de convivência, já havia notado que os suspiros nascem da melancolia da mãe, e nessas horas era melhor fingir que não estava ali pois só assim a mãe se permitia chorar, apenas sozinha a mãe não reprimia suas tristezas pequenas, a mãe achava que não podia ficar triste se havia gente com tristezas mais profundas. Mas não havia saída, a mulher jamais conseguiria se transformar em uma outra dela, estava condenada a aprender para sempre a conviver consigo mesma, essa criatura que tem tudo mas sempre sente a falta, mas o que é alguém sem a falta?, e então a mãe conteve as lágrimas, não podia deixar que tantas indagações abocanhassem sua competência para tomar conta de si própria, mais do que nunca tinha que ser capaz de proteger a filha, mais do que nunca precisava renunciar ao desejo primeiro de receber amor. Agora, a qualquer custo, ela tinha que dar amor.


Naquele ano e meio que estavam juntas, a menina ainda não tinha subido a serra, a menina só há pouco começara a chamar a mulher de mãe, a mulher achava que isso nem ocorreria mais, mas aí chegou o dia, havia sido tão inusitada a situação, a mulher e a menina estavam de quarentena no apartamento e enquanto a menina brincava com um jogo de varetas a mulher consultava estarrecida o “inumeraveis.com”, um memorial que àquela instância já catalogava mais de 150 mil vidas levadas pelo vírus em formato de coroa, e a menina recém-alfabetizada viu os nomes e perguntou quem era aquele Juraci que gostava tanto de camarão com açaí?, e a mulher que achava que não devia esconder nada da filha — assim como não deveria ter nunca escondido coisa alguma de si mesma — contou que o Juraci era mais um que virou estrela por causa do bichinho mau, e quantas pessoas já viraram estrela por causa do bichinho mau?, e aí a mulher disse que já havia mais estrelas do que todas aquelas varetas multiplicadas por mil, já havia mais estrelas do que um quarto inteiro cheio de varetas, mas é muita gente, mãe!, e foi aí, espantada com tanta gente virando estrela, que a menina chamou pela primeira vez a mulher de mãe, e a mulher se sentiu como uma lua enchendo da fase nova até a cheia em um instante, e a filha repetiu, mas é muita gente, muita, né, mamãe?, e a mãe disse que sim, minha filha, sim, por isso estavam presas em casa, mas logo iriam para a serra, para uma casa onde dava para ver o céu, e então a menina achou que em breve veria o céu mais lotado de estrelas de toda a sua vida.


A mulher precisava crer que o universo vinha montando o quebra-cabeça sem nenhum encaixe frouxo, afinal, as últimas circunstâncias vinham lhe ensinando paulatinamente que estava mais presa do que nunca às rédeas do insondável. Quando já havia desistido de ser mãe, a menina chegou. Sim, naquela manhã azeda, no momento em que abria um iogurte estragado, recebeu uma ligação da assistente social, era 25 de julho, o dia fora do tempo segundo o calendário maia, e a assistente social contou que havia chegado uma menina que cumpria todos os requisitos marcados pela mulher no formulário de adoção, com uma única ressalva, a menina tinha cinco anos, estava fora da faixa etária de zero a três que a mulher havia assinalado na múltipla escolha, aquela ficha de marcar (X)s onde ela não era uma candidata, mas sim, a juíza que colocaria à prova de suas preferências uma criança, uma menina que não deveria ter antecedentes de problemas genéticos, sem histórico de abuso sexual, sem raça definida, e finalmente havia encontrado aquela que quase tirou dez no questionário, só não recebeu a nota máxima porque tinha cinco anos, “você quer vir conhecer a menina?”. E então a mulher pensou e foi. Pensou e foi porque aprendera com Freud que até os sete anos se constitui a primeira infância, então ela ainda teria dois anos para colocar nos trilhos quaisquer descarrilamentos nas lembranças da menina, e no caminho até o abrigo onde conheceria sua possível filha, a mulher sentia contrações mesmo de útero vazio, lembrou-se de todas as tentativas malsucedidas, do malogro de seus óvulos congelados, das injeções diárias na barriga. E o inchaço artificial de um corpo grávido de óvulos, um corpo grávido apenas de si mesmo.


Não seria a ausência do outro um reflexo dela própria, ela que, no fundo, não conseguia se relacionar? Será que não queria uma criança apenas para lhe fazer companhia? O único feto que vingou em seu ventre, que virou uma mórula, como dizem, desistiu dela na segunda semana. O coágulo de sangue na privada. O bebê que, literalmente, entrou pelo cano.


Havia sido tudo escolhido, tudo premeditado, controlado, esterilizado, implantaram nela o espermatozóide do homem inteligente, sobretudo inteligente, e a mulher lembrava-se da taróloga dizendo a ela que, por mais que achasse que estava escolhendo algo, era esse algo que a escolheria, qualquer que fosse o espermatozóide selecionado, haveria uma arquitetura cosmológica praquela alma eleger seu ventre. No entanto, se isso era verdade, se o ser que habitou seu útero frágil a escolheu apenas por duas semanas, se era para ser somente uma mãe provisória, não seria aquilo um aviso para que não fosse mãe? Ou seria mais um obstáculo a fim de que aferisse seu mais profundo desejo? Afinal, ser mãe é um desejo?


Insistiu. Resolveu entrar na fila de adoção. Até que chegou a hora de a menina chegar. Havia quase desistido pouco antes, tinha colocado na cabeça que se algum dia lhe ligassem ia dizer que não queria mais, era só e viveria para sempre só, só que quando estava a caminho do abrigo, carregava a mais absoluta certeza de seus últimos instantes de solidão, e ao contrário das mães biológicas, que sentem contrações pelo esvaziamento vindouro, a mulher se contraía toda por conta do preenchimento que receberia logo mais. E quando chegou no abrigo e viu a menina dizendo para a freira que torcia muito para não ter irmãos, que o sonho dela era ter um quarto sozinha, a mulher teve certeza de que era sua filha mesmo sem tê-la gerado. Ao invés de presas por um cordão genético, eram seres solitários segurando as pontas afastadas de um imenso barbante que finalmente fora enrolado.


A menina mostrou que estava acordada quando começaram a trepidar no chão de terra esburacada.


— Estamos chegando, mãe?


— Sim, filha, sim! Vou abrir sua janela.


A menina viu esquilos e micos e lagartos e jacus e viu as gaivotas em bando no céu, trafegando sem parar à mesma distância umas das outras, unidas por fios invisíveis. Será que existiam outras coisas invisíveis além do bichinho mau?


— Aquele ali é boi ou vaca, mãe?


— Olha os peitões dela. É vaca. Tá cheia de leite.


— Você não ficou cheia de leite, né, mamãe?


— Não, filha. Não fiquei não.


A mãe se conteve. Disfarçou.


— Amanhã vamos tirar leite da vaca. E você vai ver um monte de bicho que nunca viu.


— E o bicho invisível? Aqui não tem?


— Não, filha! Aqui o ar é puro!


A menina colocou a cabeça para fora.


— Aqui não tem bichinho mau! Aqui não tem bichinho mau!


O eco da menina era mais forte que o vento adentrando a mata.


— Quanta surpresa, mãe!


— Ainda tem essa que tá lá na mala, filha.


— Uau!


A mãe manteve a cabeça reta como o caminho de pedras que as levava adiante. Podia até trepidar, mas era para cima e para baixo, e não para todos os lados.


Finalmente, estacionaram em frente a um portão de madeira. Ouviram a subtração do rebuliço do mundo. E por alguns instantes orquestrados, permaneceram com as bocas tombadas de surpresa.


Já estacionadas na garagem, a mãe descarregava as malas cheias de água sanitária e álcool e roupas e computador e varetas e bolo de caixinha e frutas e legumes orgânicos e mais álcool e água sanitária enquanto a menina brincava a céu aberto ali perto. Ela viu umas teias de aranha enormes e enredou-se ainda mais.


— As cabeludas são venenosas. Se achar uma dessas não pode ficar perto dela, viu, filha?


— Tá.


A mãe entrou na casa, abriu as janelas e, por precaução, começou a espirrar álcool em tudo. Os proprietários haviam saído há uma semana e a deixaram fechada, mas a mãe sabia que o vírus era muito resistente e não queria dar nenhuma chance de sobrevivência para o bichinho mau. Ficou fazendo pss! pss! em todos os móveis, e lá fora a menina correu até uma árvore da qual pendiam tantos cipós que se assemelhava a um espanador, o capim cocegava as solas de seus pés miúdos, e então abraçou o tronco robusto e ficou ali, observando que ele parecia a pele manchada de branco do seu João, o inspetor da escola. Os cipós escorriam em fios longos como o cabelo da Rapunzel, iam ficando de um verde cada vez mais claro à medida em que se aproximavam do solo, as pontas brilhavam feito vela de bolo de aniversário que solta estrelinhas, e o sol estava indo embora daquele jeito, nem quente demais nem quentinho de menos, as folhas se sentiam abraçadas na medida e isso era muito bom, um abraço na medida, sem apertar a ponto de estalar os ossos como às vezes sua mãe sem querer fazia. O som da natureza ricocheteava, tudo era um bate, rebate, o galo cantava aqui, os pássaros gritavam acolá, os grilos crecrecavam sem parar e as corujas começavam a piar, a menina jamais se esvaziava da sensação de que alguma coisa de tremendo estava sempre prestes a acontecer.


A menina se embrenhou em meio aos cipós e virou samambaia. Ficou contando os galhos da árvore, contou os cipós que pendiam de cada galho, contou os cipós que pendiam de cada cipó. A menina não contou as horas.


Depois esparramou-se na grama e soltou os olhos feito pipa no céu. O céu, cheio de espuma derramada por Deus. Como os anjos não escorregavam?


A mãe apareceu lá fora. Estava desapontada:


— Mamãe procurou em tudo e não achou a surpresa, filha. Acho que deixei em casa.


Mas a menina estava com a boca tão acriançada babando com tantas novidades que nem ligou. Só queria mesmo matar a curiosidade.


— Você pode falar o que era, mamãe?


— Era o meu binóculo. Uns óculos de lentes muito poderosas que fazem a gente ver as coisas muito, muito de perto.


— Tão perto quanto eu de você?


Agora sim, a mãe chorou.


Rolaram na grama feito um rolo de barbante lotado de cola.


E ficaram ali, horas esparramadas encarando o céu que de laranja e amarelo passou a negro aceso. Lá longe, a lua sorria tímida atrás das montanhas. Ali no alto, bem próximas do céu, mãe e filha percebiam com nitidez — ao contrário do que alguns vinham apregoando — que a Terra era mesmo redonda. Não restava dúvida de que ela e a filha eram portadoras de binóculos invisíveis.


O céu brilhava muito.


Tinha mesmo bem mais estrelas.



 

Natural do Rio de Janeiro, Brasil. Graduada em Comunicação Social pela UFRJ. É escritora, dramaturga e roteirista. Participou da última edição da Revista Granta com o primeiro capítulo de seu romance de estreia, Memória de Ninguém, ainda inédito. Contos de sua autoria foram publicados nas revistas portuguesas Pessoa e InComunidade. Em 2021, participou da antologia de contos Parapeitos, organizada pelo escritor brasileiro Marcelino Freire. Escreveu as peças Sexton e Aos Peixes, premiadas pela dramaturgia, e participou da equipe de roteiro de filmes e séries brasileiras, dentre eles, Tainá e Os Guardiões da Floresta, série infantil vencedora do prêmio Quirino de melhor animação ibero-americana em 2020.

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