CONFINAMENTO
(Paris, abril de 2020)
Lá fora o dia azul
traz os jornais
e seu lote de mortos.
Encolho-me aqui no meu
canto
mais triste.
Sei que o mal
está no ar fresco
desta manhã luminosa
mas as mortes cotidianas não
me convencem.
Como acreditar Naquela que
me espera?
*
Na tela luminosa
o país é um mapa
cheio de pontos
vermelhos
Pixels ardem nos olhos
mas não sinto
a fumaça
O país vai ficando
cada vez mais mapa
na distância
o mapa
cada vez mais vermelho
na tela
Parece um coração
pulsando
Parece um coração
parando
(acordo e o pesadelo
continua)
É poeta, tradutora e professora do Departamento de Letras da PUC-Rio, doutora em Filosofia pela École de Hautes Études en Sciences Sociales de Paris. Publicou, traduziu e organizou diversos livros de ensaios na França e no Brasil, entre os quais sua tese de doutorado: Religion et histoire: sur le concept d’experience chez Walter Benjamin (Cerf, 2008). Estreou em poesia com Bye bye Babel (7Letras, 2018, menção honrosa no Prêmio Cidade de Belo Horizonte). Em colaboração com Paulo Henriques Britto, organizou O Nervo do poema. Antologia para Orides Fontela (Relicário, 2018). Tem contribuído com poemas próprios, traduções e auto traduções para as revistas francesas Po&sie e Place de La Sorbonne.
Comments